A produção de Claudinei Bettiol tem mostrado uma constante discussão do sofrimento e da morte.  Com influências de Hieronymus Bosch e Francis Bacon, suas obras têm afinidades com os gisants, representações de pessoas jacentes sendo carcomidas pelos vermes em túmulos e pinturas da Europa desde a Idade Média, passando pelo Barroco até o Romantismo do século XIX.

Ao lado do bom domínio técnico existente, é possível reconhecer que o conteúdo da produção de Bettiol é a experiência particular de um homem ansioso, que conhece de perto a angústia, a dor e a finitude num tempo de contínuas ameaças à vida. E o cromatismo atraente das pinturas não tem o propósito de suavizar o horror temático, mas colabora para acentuar a vertigem sufocante e repulsiva dessas obras, misto de dilaceração e putrefação.

Alguns discutem e apontam caminhos bettiolescos para o próprio Bettiol, deveria fazer isso ou aquilo, mudar para o preto e branco, para o conceito… Ele, porém, continua expressando imagens desagradáveis à sociedade da aparência e do espetáculo. Foi por isso que o curador optou por apresentar todas as pinturas de ponta-cabeça, de modo a enfatizar os sentidos dessas pinturas que são, para além da particular existência de Bettiol, um registro do mal estar de uma sociedade mergulhada na ânsia pelo poder e pelo prazer e permeada por densa violência, insegurança geral, ansiedade e morte.

Muito além da efemeridade das notícias sensacionalistas da mídia, as obras de Bettiol têm maior densidade e permanência porque calcadas na experiência pessoal.